
Livros &
Outras Histórias
Na produção de livros, eu tenho a oportunidade de investir mais tempo na interpretação do texto, na exploração dos designs e também na fluidez narrativa das imagens.
Minha meta é não só capturar e representar a essência do universo criado pelo escritor como também expandi-lo.
O Marquês de Rabicó
Ilustrar uma obra do Sítio do Pica-Pau Amarelo é o sonho de quase todo ilustrador infantil. E eu realizei o meu nesta linda obra "O Marquês de Rabicó" publicada em 2025 pelas Edições IDPH.
Reimaginar estes personagens tão preciosos da cultura brasileira foi uma experiência incrível.

Os editores estiveram sempre presentes. Foi uma criação totalmente colaborativa.
Primeiro, decidimos que o estilo seria mais orgânico. Com texturas, tons pasteis e linhas irregulares.
Criamos um universo menos interferência digital, mais incerto e espontâneo, que abraça a história ambientada num sítio, longe de telas,
onde objetos ganham vida,
o real convive com a fantasia.
O design dos personagens foi a etapa mais empolgante.
Afinal, como fazer novos designs de personagens representados
inúmeras vezes por mais de 1 século?
O que eu poderia agregar com minha perspectiva e ainda mantê-los reconhecíveis?
Para começar, fiz um board com referências das mais diversas:


Ele me ajudou a decidir quais características manter, quais abandonar e como incluir meu toque pessoal nas versões.
Eis algumas decisões tomadas:
Narizinho ganhou roupas mais modernas, brasileiras e condizentes com uma menina criada no sítio — blusa de alça, shortinho e chinelo de dedo.
Seu cabelo é volumoso e irregular, preso por uma presilha de estrela que simboliza sua mente ativa e livre das convenções.
E ela é preta.
O Sítio, como obra do seu tempo, traz questões problemáticas, especialmente ligadas ao racismo.
Ter uma protagonista preta é uma forma de trazer representatividade atual e necessária.



Emília precisava parecer uma boneca, não uma pessoa fantasiada.
Por isso, tirei o nariz, mudei as proporções, coloquei bochechas remendadas, sobrancelhas costuradas e pele cor de estopa, com costuras aparentes. Nos cabelos e roupas, abandonei o clássico amarelo e vermelho.
Para manter a conexão com as outras Emílias, apostei no que a torna inesquecível: a personalidade geniosa, marrenta e desconfiada.

O meu Visconde de Sabugosa não é um homem vestido de espiga - ele é uma espiga.
Cabelos e bigode feitos de fios de milho, braços e pernas de palha, nariz de grão e, como charme final, uma pipoca fazendo as vezes de gravata.
Com Dona Benta tentei mudar o design do cabelo, mas a forma circular transmite sua personalidade maternal e acolhedora. É um abraço, um ninho.
Tia Anastácia trocou o lenço por um turbante afro, valorizando suas raízes e suavizando o estigma de serviçal.
Também renovei as roupas de Dona Benta, mais simples, para aproximar as duas personagens: menos hierarquia, mais amizade e cumplicidade.

Cada detalhe foi escolhido para representar a cultura brasileira de forma afetuosa:
o piso de taco, a espada de São Jorge, a cadeira de nylon.
Minha única reclamação sobre esse projeto é que não posso fazê-lo de novo.

Storytime Magazine
Meus trabalhos com a Storytime Magazine são sempre divertidos e desafiadores ao mesmo tempo. São histórias muito criativas, dinâmicas e com personagens cheios de carisma.
Na história "The Great Drought" os desafios eram:
1) pesquisar e fazer o design de animais australianos exóticos;
2) encaixar 13 animais nas duas duplas + texto;
3) achar uma paleta que funcionasse sendo que a maioria dos animais tem tons terrosos e está no meio do deserto.
Considere feito!
"The Wonderful Sheep" foi minha primeira história de capa para eles.
É a história de uma princesa que se aventura num reino mágico, contada em cinco duplas.
Escolhi fazer a princesa morena, com cabelos cacheados e tênis modernos, que
transmitiram
sua energia inquieta.

Eu gosto de histórias curtas porque consigo espiar pela porta, conhecer novos personagens, universos, compor algumas cenas empolgantes e pronto!
Nem dá tempo de ficar entediado.
Ao contrário deste sapo.

A Lebre e a Tartaruga
No meu curso da Doméstika, propus este projeto: contar uma história clássica porém criando sua própria versão, com sua perspectiva e personalidade.
A história escolhida é a fábula A Tartaruga e a Lebre, de Esopo. E como fiz dela uma versão autoral? Transformei em uma Drag Race Extravaganza!

Começo meu processo criativo descobrindo como posso contribuir
para a história através do meu estilo artístico.
E por "estilo artístico" me refiro não só aos desenhos mas também às ideias e conceitos que eles vão expressar.
Incluí a cultura queer com as dragqueens, o humor usando muitos trocadilhos e minha nacionalidade através da fauna e culinária.



Daí vejo como outros artistas já trabalharam a mesma história. Assim garanto se estou trazendo alguma novidade para o universo.
Então, parto para a pesquisa
de fotos e ilustrações para elaborar o design dos personagens. Tanto para inspirar quanto para evitar
fazer algo muito próximo do que já existe,

Agora pronto para
o design dos personagens principais.
Só o suficiente para ter uma forma geral. Assim sei os volumes que eles ocupam na composição.


Os thumbnails!
Os próximos passos são:
1) pesquisar mais;
2) refinar os rascunhos;
3) colorir.

Para compor o júri, escolhi animais que bem representam nossa fauna: um sagüi, um pintado e nosso amado vira-lata caramelo ❤️.
The Mirror, the Carpet
and the Lemon
"The Mirror, the Carpet and the Lemon" é um livro ilustrado publicado pela editora Edebê que narra um conto popular do Oriente-Médio.
O que mais gostei nesse projeto foi ter restringido o foco da minha pesquisa, o que enriqueceu muito as decisões de design.


A história não é do folclore de nenhum país específico.
Porém, eu não queria representar uma versão genérica do Oriente Médio.
Sugeri então focarmos a pesquisa na cultura persa, já que a região é citada no começo do texto.
A editora topou e foi ótimo!
A cultura persa me inspirou tanto com sua arquitetura, moda e traços étnicos quanto com sua própria arte, que usei como referência para a natureza, estampas e azulejos.
Gosto de dedicar alguns dias apenas para a pesquisa. Isso enriquece muito as ilustrações! É mais que apenas contar uma história - é retratar um pedaço de toda uma cultura.
Aqui estão alguns boards:




Para a cena onde aparecem príncipes
do mundo inteiro
escolhi várias representações
de realeza para além
da clássica europeia.
Para a dupla final,
me inspirei em uma pintura épica de um casamento tradicional persa.
Fiz algumas adaptações
para ainda ficar reconhecível como um casamento atual
mas mantive alguns elementos bem característicos,
como os trajes.


















